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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Senado Federal, dezembro de 1914.

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar  meu corpo
  na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!

DISCURSO DE RUI BARBOSA, NO SENADO FEDERAL EM 14 DE DEZEMBRO DE 1914.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Fidel Castro, O Ditador das Américas.




A foto foi postada á direita, de  propósito 
O ditador Saddam Hussein melhorou a educação e a saúde no Iraque. Em 1982, a UNESCO concedeu ao Iraque um prêmio por implementar uma política de educação para tentar erradicar o analfabetismo do país. O número de pessoas alfabetizadas cresceu de 52% para 80% entre 1977 e 87. O líder iraquiano também aumentou em cerca de 30% o número de estudantes na área primária. Construiu e ampliou universidades públicas. O total de universitários entre 1968 e 1980 dobrou.

Uma das suas prioridades foi a inclusão de mulheres na educação e também aumentar o direito delas na sociedade iraquiana. Em 1991, conseguiu elevar o número de mulheres para 30% no corpo docente das universidades – pode parecer baixo para padrões ocidentais, mas é gigantesco para o mundo árabe.

Até 1990, 97% da população urbana e 71% da população rural tinha acesso à saúde universal e gratuita na ditadura de Saddam Hussein. O ditador iraquiano investiu pesadamente em faculdades de medicina sofisticadas, como a de Mosul, uma das melhores do Oriente Médio na época, e em hospitais públicos. 

A mortalidade infantil despencou de 80 por mil habitantes para 40 por mil de 1974 a 1989 com o programa de saúde pública de Saddam. O líder iraquiano também fez enormes investimentos em infraestrutura, inclusive contratando empreiteiras brasileiras ao longo dos anos 1970 e 80. Para completar, Saddam protegia algumas minorias religiosas, como os cristãos, enquanto perseguia outras.

Saddam atingiu todos estes objetivos apesar de uma sangrenta guerra contra o Irã nos anos 1980, que deixou 1 milhão de mortos. O cenário para o ditador iraquiano começou a piorar a partir da sua frustrada invasão do Kuwait e consequente Guerra do Golfo em 1991. Seu regime foi alvo de sanções internacionais e de um embargo americano. Todos os seus avanços na saúde e educação foram perdidos nos anos seguintes. Em 2003, Saddam foi deposto em invasão americana.

O curioso é que, mesmo nos anos 1980, quando Saddam produzia ótimos resultados na saúde e na educação, ele não era idolatrado por ninguém. Sempre foi visto, corretamente, como um ditador sanguinário que perseguia opositores, censurava a imprensa e eliminava totalmente as liberdades democráticas.

Alguns argumentarão que Saddam usou armas químicas contra curdos. Verdade. Estas ações se intensificaram no fim nos anos 1980 e são condenadas internacionalmente.

Enfim, Saddam sempre foi tratado como ditador independentemente de suas conquistas na área da saúde e da educação e pela redução na desigualdade social e de ter sido alvo de sanções internacionais (no caso, do mundo todo, não apenas um embargo dos EUA). Por este motivo, Fidel Castro, que assumiu o poder em uma Cuba que tinha a terceira renda per capita da América Latina, atrás da Argentina e da Venezuela, também deve ser chamado de ditador apesar de seus avanços na área da saúde e da educação. Ditador é ditador. 

Sem dúvida Saddam foi mais sanguinário, mas Fidel também foi sanguinário – e convenhamos que o contexto de uma ilha sem divisões sectárias é mais simples do que uma nação no coração do Oriente Médio.

E podem me dizer - "O Saddam tinha apoio dos EUA nos anos 1980". Verdade. E Cuba tinha da União Soviética. E, convenhamos, os EUA fizeram duas guerras contra Saddam. Fidel, no máximo, foi alvo de uma invasão mal organizada na baía dos Porcos.

E olhem que nem vou entrar na questão de Bashar al Assad, que também garantiu educação e saúde gratuita não apenas para os sírios, como também para refugiados palestinos e iraquianos. Claro, assim como Fidel e Saddam também é sanguinário – embora fosse menos do que os dois antes da Guerra da Síria, em 2011. E, claro, é ditador.

Por GUGA CHACRA, ao Estadão.