Páginas

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O que é uma política feminina?


Este questionamento norteou a palestra intitulada “Aspectos da Mulher na Presidência”, proferida pelo sociólogo Rudá Ricci, durante o II Encontro de Mulheres Parlamentares de Santa Catarina. O evento foi realizado na Universidade do Alto Vale do Itajaí (Unidavi), em Rio do Sul, começou na quinta-feira e terminou ontem. O estudioso propôs até “romper o ciclo esquizofrênico da história política do país” convidando as detentoras de mandato a pensar em ações mais humanas, voltadas ao bem-estar da família e evitar os comportamentos agressivos e machistas perpetuados pelos homens ao longo da história. “As mulheres precisam perceber que a política não é uma guerra”, afirmou Ricci. Com uma longa convivência nos bastidores do poder nas últimas décadas, o sociólogo recrimina as parlamentares que conseguem abrir espaço, mas que, ao chegar lá, copiam as atitudes de confronto do meio.

Feminista confesso, ele não se mostra tão otimista em relação à existência de uma política mais feminina, que leve em conta as características atribuídas à mulher como emoção, afetividade e tendência à conciliação. “Temos muito que avançar ainda”, analisa. Doutor em Ciências Sociais, membro da Coordenação Nacional do Fórum Brasileiro do Orçamento, Ricci também exerceu a função de assessor nacional da Cultura e coordenou a elaboração do programa agrário na campanha presidencial de Lula em 1989. Também dedicou-se à implantação de metodologias de monitoramento em políticas públicas de educação para a cidadania e gestão participativa. Atualmente, é diretor do Instituto Cultiva, órgão não governamental comprometido com a implementação de práticas democráticas, participativas e de controle social.

Com base nesta experiência, ele diz que a divisão de trabalho continua desigual na família brasileira, apesar de 35% delas serem chefiadas por mulheres. Para Ricci, a ascensão econômica da classe C e a queda acentuada do índice de natalidade são fatores que contribuem para a maior participação política da mulher. Embora, segundo ele, o país ainda careça de programas voltados para a mão-de-obra feminina, para a segurança e saúde da mulher. “Temos mulheres vereadoras, mas temos poucas vereadoras ocupando cargos de destaque como a presidência da Câmara, por exemplo”, provoca.

Para embasar suas opiniões, Ricci apresentou alguns dados da União Interparlamentar da América Latina. Um deles mostra que apenas 9% dos deputados federais são do sexo feminino. Até mesmo a eleição da presidenta Dilma Roussef (PT), em 2010, foi calcada em articulações políticas do ex-presidente Lula (PT) que conseguiu criar para o Brasil a imagem de “mãe do PAC” e de “cuidadora” do Brasil. “Conversamos sobre os dilemas e possibilidades do governo Dilma, da necessidade de criar observatórios sobre a condição da mulher, de criarmos conselhos dos direitos da mulheres nas Câmaras Municipais e... da crise de autonomia orçamentária dos municípios brasileiros”. Finalizou.

Nenhum comentário: